Mouse Trap – A Diversão Agora é Outra: Levaram a sério demais não se levar a sério
Obra é inspirado no personagem Mickey de Steamboat Willie (1928) ao entrar em domínio público no começo do ano.

Em decorrência da entrada de Steamboat Willie (1928) em domínio público em janeiro deste ano, essa versão do Mickey pode ser utilizada por qualquer pessoa sem ter a autorização da Disney. Após diversas tentativas de escapar do domínio público, tendo sido aumentado o prazo estipulado por, pelo menos, umas três vezes e chegado ao prazo final de 95 anos, a versão de 1928 do Mickey foi a razão pela qual Simon Phillips resolveu desenvolver o roteiro de Mouse Trap – A Diversão Agora é Outra contando com a direção de por Jamie Bailey.

Mouse Trap conta a história de um grupo de amigos que resolvem realizar uma surpresa de aniversário para Alex (Sophie McIntosh), que está presa em seu turno noturno em um fliperama. Porém, todo o clima de festa é encerrado devido a um assassino que utiliza uma máscara de Mickey (Simon Phillips). Então, eles são obrigados a participar de um jogo pela sua sobrevivência.

O longa inicia com uma mensagem ao estilo de letreiro de Star Wars informando que a obra não tem ligação com a Disney e suas subsidiárias, o texto soa como um pedido de desculpas, uma piada e ao mesmo tempo um medo de sofrer um processo. Haja visto que a figura emblemática de Mickey desde sempre foi rentável para os estúdios da Disney, além de ter tido uma forte proteção por parte da companhia para que seu uso não fosse público. Mouse Trap a todo momento parece ter sido feito para gerar uma provocação para a companhia, mais do que de fato para entreter os seus telespectadores. E, aqui reside o maior dos problemas.

Sendo classificado como comédia de terror, o filme até tenta não se levar a sério e brincar com o que o torna grotesco, mas falha miseravelmente também nessa proposta, pois são utilizadas frases que já vimos em outras obras de sucesso, como Pânico (1996), onde há um diálogo literalmente parafraseado da icônica cena de Randy explicando as regras de sobrevivência em um filme slasher. Mas, onde Pânico acerta em brincar com a metalinguagem sobre um gênero que o define, sem deixar de lado elementos que o caracterizam como slasher, como a perseguição, os sustos, o suspense e as mortes, Mouse Trap erra em todos esses quesitos.

Não há um sentido de urgência, os personagens não parecem de fato temer pelas suas vidas, os próprios não levam a sério o assassino. Em uma das cenas iniciais, a protagonista ao fugir do homem mascarado, se depara com o grupo de amigos e literalmente esquece que estava correndo de algo que a assustou, que a colocaria em perigo. E, em nenhum momento, é citado para o grupo o ocorrido, é como se nunca tivesse acontecido. Inclusive, ela retorna para o ponto inicial onde teve o primeiro encontro com o assassino e esquece que a porta estava sendo trancada por ele. São essas escolhas no roteiro que fazem com que não seja dada a importância para os fatos ocorridos dentro do filme e nisso a imersão é prejudicada. A fraca atuação do elenco também influencia muito para que esse efeito não seja alcançado, todas as falas parecem ensaiadas e sem emoção, seja ela qual for, nem mesmo a expressão de pânico é bem explorada em situações de embate.

Poucas são as cenas em que o assassino aparece perseguindo suas vítimas, algo essencial para o subgênero, naquelas em que aparece os cortes são abruptos e as coreografias de luta não parecem sincronizadas. Tudo é ensaiado da pior maneira possível, não é orgânico, não possui um ritmo. As mortes também costumam ser o ponto alto do subgênero slasher, mas aqui não as presenciamos, as mortes são sugeridas e logo em seguida muda a cena e a câmera acompanha outro recorte da história. Quando ocorrem os poucos assassinatos em frente a câmera já nos encontramos nos momentos finais do filme e as mesmas não são impressionantes, não chocam e nem ao menos apresentam alguma criatividade. Palavra essa que falta durante toda a duração de Mouse Trap, a criatividade não se faz presente e o baixo orçamento não é desculpa para falta de impulso criativo e roteiro mal desenvolvido. É um desrespeito com fãs de terror e principalmente com os fãs de trash, sendo o subgênero o maior exemplo de que baixo orçamento é um detalhe quando a diversão e a criatividade são o foco.

A máscara de Mickey é um mero detalhe na trama, não sendo desenvolvida nenhuma importância ou relevância para a história. Poderia ter sido de qualquer outra figura, que não traria impacto para o curso do roteiro. Isso porque não foi projetado para ser algo central, foi utilizado como desculpa para gerar uma provocação, utilizando uma propriedade intelectual de qualquer jeito. É um desrespeito, na verdade, com quem assiste, por não ter desenvolvimento de personagem e nem de vilão, não conseguimos nos conectar e nem ter empatia por nenhum deles. Não tem mitologia explicada da obra, não sabemos de onde vem seus poderes, o que o levou a matar, não tem características marcantes do Mickey e nem elementos de sua história subvertidos, além do único fato de que agora alguém usa uma máscara do personagem. Nada de criativo.

Mouse Trap tem duração de 80 minutos e termina de forma abrupta, sem dar sentido algum para o que assistimos. Não podemos o classificar como terror de comédia, pois faltam os elementos de terror e de comédia, não temos mortes sangrentas, não temos sustos, não temos boas piadas e alívios cômicos. Não sentimos medo, repulsa ou diversão. No fim, é somente um projeto que tinha potencial de crescer nessa nova onda que vem surgindo no terror de subverter a nossa infância para o macabro, mas que no fim tentou demais não ser levado a sério e acabou não sendo nem divertido.

Mouse Trap estreia hoje (14) nos cinemas.

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