Altered Carbon | O hype da série teve seu carbono totalmente alterado

A grande aposta da Netflix para 2018, teve sua chegada ao streaming com uma temporada de 10 episódios, que inclusive já foi renovada para uma segunda, com diversos assuntos abordados dentro de aproximadamente 50 minutos. Queria começar dizendo que a Pinguim amou a premissa da série, no entanto, assim como possui acertos, Altered Carbon possui erros, até ai tudo bem certo? Entretanto, essas falhas não são pequenas ou questões fáceis de ignorar. São, na verdade, bem gritantes. Vocês irão entender, eu juro, calma, mas antes vamos conferir sobre o que se trata a série.

Sinopse:

No futuro, a sociedade se acostumou à prática da troca de corpos: após armazenar a consciência de uma pessoa, ela pode ser transferida a outra “capa”, podendo viver várias vidas. O mercenário Takeshi Kovacs (Joel Kinnaman) acorda após 250 anos em outro corpo. Além de se adaptar a esta situação e à nova sociedade, ele é contratado por um homem riquíssimo para descobrir o autor de seu próprio assassinato. Tak conta com a ajuda de uma policial mexicana, um ex-militar tentando ajudar sua filha e um robô equipado com inteligência artificial.

Com um aspecto estético de invejar, a trama se assemelha a Blade Runner 2049 que, inclusive, ganhou o Oscar 2018 de Melhor Fotografia e Efeitos Visuais, Altered Carbon não chega a esse patamar, mas consegue se sobressair bastante. O grande problema é que a história se inicia bem, o roteiro apresenta bem a proposta da série nos primeiros episódios, temos longos desenvolvimentos dos personagens e passamos até a compreender alguns termos daquele universo, que é totalmente diferente ao nossos olhos, uma sociedade bem distante da nossa, certo? Errado, o formato pode ser diferente, pode se denominar de outra forma, pode até possuir tecnologias que não possuímos, como a troca de corpo, ou como é chamado na série, capa.

No entanto, vamos percebendo o quanto algumas coisas vão ficando para trás, a maratona vai ficando bem cansativa, e não é só porque a temática é densa, mas porque não vão fazendo as conexões necessárias para que a imersão aconteça, para que nós pessoas que nunca estivemos dentro daquela realidade possamos nos identificar nela, afinal, a exploração das classes inferiores não é nenhuma novidade para nenhum de nós, estamos cansados de saber que o rico fica cada vez mais rico, explora bastante as pessoas, seja para obter mais dinheiro ou mais status, mais fama ou simplesmente para manter uma imagem sua que nem é, de fato, verdadeira. As proporções podem ser maiores em Altered Carbon, mas roubar a imagem de divindade, deuses, também não chega a ser algo absurdo na nossa realidade, se procurar no tanto de pessoa que tu conhece tu vai se deparar com várias pessoas, principalmente se elas conseguem exercer influência ou poder, ou os dois, porque estão interligados. Quantos relatos temos de pastores, líderes religiosos usam o nome de uma entidade para conseguir explorar seus fiéis, se autodenomina embaixador, apenas na ganância de ditar a vida alheia para manter seu gado sempre adestrado.

Enquanto esperamos encontrar as conexões, a série mostra como se fossem coisas separadas, a crítica religiosa começa com um protesto na rua, passa rapidamente pela família da Ortega, mas depois some completamente da história. Não serviu para quase nada na narrativa. A sensação da primeira metade para a segunda é que estamos vendo uma série totalmente diferente com os mesmos personagens e isso poderia ter sido bem feito, caso houvesse uma co-relação ou uma explicação e propósito maior para a trama. O que não tem. A imersão não acontece, em nenhum momento, tu te sente lá ou absorve com sensações o que é viver naquela realidade.

Na hora de adaptar o livro para o roteiro de série houve algumas complicações também, por exemplo, a própria questão do governo, eles apenas citam, de uma forma, bem vaga, no entanto, o mesmo tem um papel importante, fundamental na manutenção daquela sociedade, mas em nenhum momento tu vê alguém do governo, quem rege aquela sociedade? Onde ficam? O que fazem? Quais as suas sujeiras? São dúvidas que ficam na nossa mente mesmo depois da temporada chegar ao final.

Essa falha em não nos fazer entrar dentro da história alcança os personagens, por eles serem, muitas vezes, inconsistentes em suas próprias personalidades, acabamos por não ter tanta simpatia ou empatia por eles, salvo alguns poucos, como por exemplo Poe, sim, é homenagem a Edgar Allan Poe, sua construção se dá da melhor maneira possível, ele é carismático, caricato, mas ainda assim tem desenvolvimento, aprende com as coisas apesar de sua condição, tem as falas mais divertidas, além de uma personalidade que nos faz querer conhecer ele. O carisma dele é tão grande que nos apegamos tanto a Poe, que parece que o conhecemos a décadas, apesar de ter sido em apenas 10 episódios. O melhor personagem de Altered Carbon sem sombras de dúvidas.

Muitas questões como imortalidade – o que isso representa para a humanidade, de uma forma mais clara -, o descarte das capas – como o contraste em que os ricos conseguem trocar com facilidade, como quem troca uma peça de roupa e descarta com a mesma facilidade com que obtém, enquanto tem pessoas que se veem a ficar em capas que não condizem consigo mesma -, a desigualdade social causada por isso e a própria idolatria proveniente da imortalidade.

Ainda em relação ao roteiro, os diálogos são bem fracos, as vezes, utiliza demais o recurso da narrativa expositiva e principalmente faz uso em demasiado de frases de efeito, frases, inclusive, que já vimos por aí mais vezes do que podemos contar.


O que acredito ter atrapalhado ou até mesmo gerado esses erros é a pressa em querer encher a história com mais elementos do que conseguiriam dar conta, há muitos personagens para desenvolver e uma dificuldade em fazer isso bem, são muitas temáticas que aparecem e somem do nada passado o propósito para que veio. A impressão que fica é que a trama não possui background, plano de fundo, as coisas acontecem para convenções narrativas, apenas. A série tem ambição de ser tudo e por consequência não consegue ser nada definido, é um cyberpunk, com muito cyber até, mas quase sem punk. É mais ação do que roteiro, as cenas de lutas são de tirar o fôlego, tem violência gráfica, mas em momentos bem pontuais, tudo isso acelera a história, mas possui momentos em que tudo se arrasta. O ritmo é quebrado várias vezes e de forma bem brusca, diga-se de passagem.

Altered Carbon te instiga o tempo todo de que algo grandioso vai acontecer, mas quando chega o momento, a surpresa vem, percebemos que não era tão plot twist assim, já vimos várias vezes isso, não chega nem perto de cativar do jeito que prometeu e isso é bem decepcionante. Sabe aquilo de Tu és eternamente responsável por aquilo que cativas, pequeno príncipe não poderia estar mais certo.

Isso fica muito claro com relação ao “vilão/vilã” da história, as motivações são bruscas, quase como se a gente nem reconhecesse mais a personagem e a explicação é bem simplória e apresentada de forma até irreal, se com um toque mais humano, talvez tivesse soado mais palatável. A gente tem pouco tempo da construção da personagem em tela, então tudo parece apressado para acabar em exatos dez episódios, então estico umas subtramas aqui, apresso outras ali e no fim o trabalho não tem planejamento quase que nenhum, pois os pontos fortes que precisavam de desenvolvimento, ficam sem esse cuidado, enquanto que outros sem importância perduram em nossos olhos por vários momentos.

Enfim, Altered Carbon tinha muito potencial para ser original para ser a melhor série do ano, mas no fim acabou caindo na ambição de querer ser tudo, de querer ser mais do que poderia aguentar, no entanto sua temática que poderia ser diferenciada e uma das mais originais, ficou ofuscada por toda essa questão. Com séries de peso como Westworld não chega nem competir em qualidade, o que dirá chegar perto de alcançar o mesmo patamar. Um gancho fraco foi deixado para uma próxima temporada, com soluções fáceis e subestimando a inteligencia de seu público. É uma boa diversão para quem quer um entretenimento com boas cenas de ação, mas para quem busca conteúdo original e profundidade de roteiro, não vai conseguir digerir a obra.

Nota da Pinguim: Eu iria falar sobre a questão de como as mulheres foram abordadas na série, mas como tem várias coisas a serem apontadas e muitas delas spoilers bem grandes, considero melhor fazer um artigo separado. Terá muita reclamação de hipersexualização. Então, aguardem!

A nota é:

(2,5 de 5 pinguins)
Confira também a nota do IMDb:

Altered Carbon (2018– ) on IMDb

Tagarelem comigo, o que vocês acharam de Altered Carbon? Gostaram ou não? Sempre bom lembrar que a opinião da pessoa que vos escreve não é uma verdade absoluta, a Pinguim pode ser incrível demais, mas não chegou ao patamar de alguma entidade aí, nem tampouco é uma deusa, pelo menos não nesse sentido, né? Isso quer dizer que vocês tem que respeitar meu ponto de vista, mas ir assistir e refutar ela talvez, formar sua própria opinião mesmo que ela seja diferente, mesmo que talvez ela seja igual. É uma ação necessária, combinado?

Acompanha a Pinguim (mais cyberpunk e) Tagarela das redes sociais:

Até a próxima tagarelice e lembrem-se “O perigo de viver muitas vezes é que você esquece de ter medo da morte.”

3 Replies to “Altered Carbon | O hype da série teve seu carbono totalmente alterado”

  1. Fiquei bem chateada com a série, infelizmente, tinha todos os elementos que eu gosto, mas não desenvolveram muito bem. Vou assistir a segunda também porque não desisto fácil e estou com esperança que melhore!

  2. Confesso que esperava bem mais da série e concordo em diversos pontos com você. A série tem um desenrolar meio conturbado e suas idas e vindas entre passado e presnte não acontecem de forma harmoniosa. Ainda sim, gostei da série e aguardo a segunda temporada rezando que supere a primeira.

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