Duas Rainhas chegaram para nos mostrar os obstáculos que a sociedade cria para que mulheres cheguem ao poder e se mantenham. Mary Stuart e Elizabeth I são duas figuras históricas importantes e que por vezes muitos desconhecem. Todos os grandes problemas enfrentados por elas se reservam à toxicidade masculina, ao estarem em um ambiente em que homens não aceitam a posição das mulheres, que querem o tempo todo usurpar os seus poderes.
Nesse quesito, a diretora teatral Josie Rourke imprime muito bem sua visão sobre a história, tudo bem, que muitas coisas do longa são ficção, mas como toda obra artística não deixa de exercer sua função: a de expressar uma visão, contar uma história. E Duas Rainhas nos conecta ao passado e nos faz enxergar que pouca coisa mudou nesse meio tempo. Seguimos tendo dificuldades absurdas de alcançar cargos importantes dentro da nossa sociedade, seguimos sendo constantemente deslegitimadas, mesmo quando chegamos ao poder. A diretora é brilhante em utilizar a câmera para criar essa conexão, esse lado.
Já dizia Elizabeth I: “Como são cruéis os homens.” Essa frase não veio de graça, afinal, todos aqueles que as rodeavam tinham interesse em ocupar seus espaços. Inclusive, o meio irmão de Mary.
Tanto uma quanto a outra desafiavam a ordem da sociedade de sua época, eram de opiniões fortes, decididas, independentes e não se deixavam controlar. O ápice do filme é justamente o embate entre duas rainhas que se ligam pelas dificuldades de se manter dentro de uma sociedade tão ameaçadora para elas. A solidão em dado momento se torna tão palpável que chega a doer, vemos o sofrimento carregado por cada uma delas a sua maneira. Tudo isso porque há um peso em ser mulher numa sociedade misógina e machista. Elas abrem mão de muitas coisas, elas se submetem a absurdos somente para poder se manter algo que na verdade era sua por direito.
Então, existe sim elementos negativos na obra, talvez o ritmo, talvez alguns momentos priorizados, mas não convém aqui apontar os dedos, pois o que importa mesmo é a sua temática, a história que está sendo contada. É pesado, pelo menos para mim, pois é sempre duro se dar conta do quanto tudo é trágico ou muito difícil para nós. Dos quantos casos em que somos negligenciadas, esquecidas e apagadas quando temos muito a dizer, quando temos um lugar, um espaço que é nosso por direito.
E isso não mudou ainda, a sociedade segue fazendo e estimulando que histórias como as de Mary e Elizabeth se repitam, vemos o estímulo para colocar umas contra as outras, mesmo quando só nós mesmas entendemos o que significa viver em uma sociedade como essa.
Sobre a diretora, vi muitas críticas ao filme e a sua direção e sempre vem a tona o questionamento por que há tanta cobrança para que filmes dirigidos por mulheres sejam espetaculares e os dirigidos por homens não? A resposta o próprio Duas Rainhas nos entrega: há mais obstáculos para que possamos ocupar esses cargos majoritariamente masculinos. Porque isso serve para nos rebaixar sempre, para que desistamos de seguir em frente e é por isso que defendo a duração da Josie, inclusive acredito que só outra mulher para trazer esse olhar e essa interpretação para um acontecimento histórico como o que o filme aborda.
Enfim, o embate entre as duas coroas é estimulante, o cuidado com o visual, com a maquiagem, com o figurino foi impecável, nos transportando para aquela época. No entanto, o mais importante mesmo é ver Duas Rainhas sendo bem representadas na telona.
O longa não segue cada fato histórico à risca, e tá tudo bem, afinal é uma ficção. Mas, se vocês acharem interessantes, podemos trazer uma análise mais aprofundada sobre os acontecimentos reais que foram abordados no filme, afinal é importante conhecer.
Duas rainhas foi indicado ao Oscar de Melhor Figurino e Melhor Maquiagem e Cabelo. Faz todo sentido, o trabalho foi impecável.
Tagarelem conosco: irão assistir o embate dessas duas poderosíssimas rainhas? A temática chamou vocês para a luta?
Até a próxima tagarelice e lembrem-se de seguir lutando por seus espaços!
Fundadora e Editora-Chefe. Virginiana e defensora da terra.
Um pouco Lorelai demais, não só na quantidade exagerada de café, mas também na capacidade de falar muito em pouco tempo. Whovian apaixonada. É possível me encontrar, entre um salto temporal e outro, em Doomsday ou em qualquer biblioteca ou cinema do mundo.