Hoje lançamos uma nova coluna aqui na Pinguim Tagarela, como amantes da sétima arte não poderíamos iniciar a coluna sem falar de um grande clássico do terror: Halloween e também, assim, aproveitamos o clima do mês do terror. Sairá nos finais de semana do meio de cada mês crítica ou matéria com algum clássico. A princípio falaremos de filmes, mas poderemos expandir para outras mídias.
Halloween – A Noite do Terror foi um grande marco para o cinema, principalmente para o subgênero Slasher, que apesar de já existir passou a ascender com o lançamento da obra na América. Dirigido por John Carpenter, que demonstrou ter uma incrível habilidade com a câmera, Halloween trouxe muitos recursos que viriam a ser muito utilizados por filmes posteriores.
O slasher subgênero que o clássico ajudou a ser disseminado e conhecido é caracterizado por conter um serial killer que mata suas vítimas de forma aleatória, geralmente fantasiados. Os Slasher Movies, em sua grande maioria, possuem baixo orçamento. O longa, inclusive, teve ideias criativas por conta da falta de dinheiro, a máscara que Michael Myers usa foi comprada por dois dólares e pintada – a nível de curiosidade é uma máscara do Capitão Kirk de Star Trek. Além de o próprio diretor escrever o roteiro junto com Debra Hill e também ser responsável pela trilha sonora.
Quando temos noção do baixo orçamento do longa, olhamos de forma diferente para a obra que conseguiu realizar muitas coisas incríveis e se consolidar como um dos grandes clássicos do terror da sétima arte. Há muitos filmes que tiveram orçamentos muito mais robustos que não realizaram nem a metade. É um mérito para toda a equipe envolvida.
O diretor John Carpenter esbanja talento no manuseio das câmeras, seus enquadramentos são belíssimos e geram uma atmosfera de tensão. Assisti recentemente um vídeo do canal EntrePlanos sobre uma cena de Pulp Fiction do Tarantino e nele se fala da câmera que mostra todo o local, seus detalhes em planos abertos, ora seguindo os personagens, ora nos mostrando o seu arredor. Tal característica é muito vista em Halloween, a câmera intercala para momentos em que nos coloca no papel de Myers, o serial killer, em primeira pessoa. Em outras situações nos coloca em posição de testemunhas de toda situação.
Quando somos o próprio Michael através da câmera em primeira pessoa temos todo o desconforto psicológico de ser atuantes do ato cruel. O que nos gera um tremendo horror. Nas situações em que somos testemunhas, acompanhamos os passos de Myers e também como cúmplices observamos as pessoas da qual ele stalkeia. Tudo isso nos coloca em uma posição nem um pouco agradável. Somos participantes de coisas horrendas e cada uma dessas coisas é inovadora, toda a sutileza do roteiro e da direção que em nenhum momento nos entrega falas expositivas, utiliza muito bem daquele suspense que Hitchcock descreveu em uma entrevista, sabemos mais do que as vítimas e por conta disso passamos por mais nervoso, por mais tensão, por mais suspense.
Queremos gritar para que a vítima fuga, queremos alertar a presença daquela figura assustadora que a qualquer momento pode os matar de forma brutal, a ansiedade de não saber quando vai ocorrer o ataque faz parte dessa gama inteligente de proporcionar uma atmosfera de horror, de medo. Mais uma vez, Carpenter nos coloca como um elemento participante, como um de seus personagens e brinca, assim, com nossos medos, nossos receios. É pura genialidade.
A trilha sonora feita pelo próprio diretor é simplesmente de arrepiar, os sons são marcantes e ajudam a criar essa atmosfera de medo, de perigo iminente, de nada mais, nada menos do que ansiedade desesperadora. Quando a música é tocada simplesmente o mistério se apresenta, essa necessidade de não desgrudar os olhos da tela, de por nenhum momento conseguir dispersar por a todo momento a trilha instigar a curiosidade e a tensão das cenas.
O longa não precisa o tempo todo usar de jumpscare, a figura quase que sobrenatural de Michael, muito descrito como Bicho-Papão, é o que realmente assusta. Sua facilidade em adentrar na segurança das vítimas, no quão fácil ele consegue não ser notado, em sua obsessão em observar aqueles a quem vai matar. O silêncio com que se move, a rapidez com que aparece e desaparece. Não importa se é noite ou dia, em plena luz do sol ele consegue essa façanha. Isso é o que torna Michael em um dos serial killers mais monstruoso e aterrador da história do cinema. Digo mais da cultura pop.
Uma das coisas capaz de nos deixar extremamente paranóicos é constatar que essa presença onipresente pode se situar em pontos onde não enxergamos, em momentos distraídos, à espreita nas sombras ou na luz. A sensação de insegurança e impotência se acentuam, tão rápido quanto o próprio assassino.
Os acontecimentos macabros são todos realizados no dia 31 de Outubro de 1978. Uma data conhecida como o Dia das Bruxas, ou seja, em inglês Halloween que dá nome à obra. Na cidade de Haddonfield.s
A direção de fotografia é espetacular, todo o jogo de luz e sombra nos leva a refletir sobre a própria natureza de michael e suas vítimas, sendo ele facilmente atribuído pelo mal através da escuridão que ronda suas vítimas, com suas seguranças representadas na iluminação. o longa é, literalmente, obscuro, totalmente sombrio.
Um grande exemplo do quanto Halloween contribuiu para a popularidade, a ascensão do slasher é a declaração do roteirista de Sexta-Feira 13, Victor Miller, em diversas entrevistas o quanto utilizou vários, senão todos, os aspectos importantes do roteiro de Carpenter para criar seu filme, como, por exemplo, um acontecimento macabro do passado, o vilão misterioso, a heroína virginal, a data simbólica, os jovens se encontrando indefesos ao final, entre outros. Tantas obras posteriores utilizaram elementos de Halloween para suas construções, por isso, o longa se tornou um clássico, pois revolucionou a sétima arte ao difundir um subgênero que ditou a forma de longas depois do seu que, inclusive, podemos encontrar até hoje. Dando, enfim, o formato para os slashers.
Outra grande influência do longa é o tanto que influenciou a cultura pop, Tyler the Creator em sua música Who Dat Boy utiliza uma batida que se assemelha a trilha sonora creepy de Halloween, composta por Carpenter. Além de que no início de seu clipe, dirigido pelo próprio Tyler, nos remete a disposição de câmera que John usou e abusou no filme.
Enfim, para o diretor do longa, Myers é a encarnação pura do mal, o descrevendo como uma força maligna a solta e que podemos chegar a conclusão assistindo o psicopata em ação. Halloween é uma obra icônica por se destacar em sua época, sendo uma obra que muitos quase que consideraram terror b, o filme conseguiu dar formato ao que viria a se chamar Slasher Movies. Com uma direção impecável, uma atuação incrível da antagonista Laurie interpretada pela Jamie Lee Curtis e principalmente por criar uma entidade como Michael Myers sem ao menos utilizar do sobrenatural, apenas em não nos contar o porquê de ele ter feito e fazer o que faz. Essa falta de explicação é essencial para criar essa figura assustadora, misteriosa e até mesmo mística, o tornando um dos serial killers mais icônicos do terror cinematográfico.
Halloween é uma obra que apesar de muitos considerar lenta, nos surpreende por utilizar o passo certo em construir, literalmente, o medo vivido por Curtis, às vítimas de Myers e por nós mesmos. Surpreende, sobretudo, por não utilizar a violência explícita para atingir esse fim, mas por delinear o que o suspense deve ser. Carpenter consegue captar a essência do que é o terror, do que é o suspense e os imprimir na tela. O que muitos filmes do subgênero slasher não conseguiram alcançar que não se trata da quantidade de mortes, nem da forma explícita de as realizar, mas sim de toda a atmosfera e sensação que os espectadores devem sentir. E, por isso, Halloween – A Noite de Terror é uma obra prima e clássica do horror.
Tagarelem conosco: Irão encarar um Halloween com Michael Myers? Gostaram da coluna?
Fundadora e Editora-Chefe. Virginiana e defensora da terra.
Um pouco Lorelai demais, não só na quantidade exagerada de café, mas também na capacidade de falar muito em pouco tempo. Whovian apaixonada. É possível me encontrar, entre um salto temporal e outro, em Doomsday ou em qualquer biblioteca ou cinema do mundo.
Jornal Informal
Eu não consigo assistir ao filme Halloween, porque acho sem graça demais. huahuahuahua
Sinceramente, não é um enredo que me desce com facilidade. Apesar de que estou curiosa com o remaker que fizeram, a protagonista viveu até os dias de hoje esperando que o psicopata retornasse e assim ela pudesse se vingar dele e finalmente manda-lo para o inferno.
Mas, ainda não sei se o verei de fato. Sua analise ficou maravilhosa. Parabéns!