Não é nenhuma novidade que o Spike Lee adora em seus trabalhos incorporar críticas sociais, foi assim em outras obras suas, não seria diferente com Infiltrado na Klan. O longa veio em um momento bem preciso, veio dialogar com a sociedade não apenas dos EUA, mas de todas as regiões do mundo em que o racismo impera de forma estrutural, de forma, muitas vezes, velada.
Então, nem adianta jogar um “Ah, mas no Brasil não existe, somos tudo mestiços”. Tenho uma novidade para vocês, serve sim para nosso país, principalmente que recentemente elegeu um candidato da extrema-direita cujo líder da Klu Klux Klan, o David Duke disse soar como eles.
Sinopse:
Em 1978, Ron Stallworth (John David Washington), um policial negro do Colorado, conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan local. Ele se comunicava com os outros membros do grupo através de telefonemas e cartas, quando precisava estar fisicamente presente enviava um outro policial branco no seu lugar. Depois de meses de investigação, Ron se tornou o líder da seita, sendo responsável por sabotar uma série de linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas.
A candidatura do Bolsonaro só revelou ainda mais a sociedade racista em que vivemos, que muitos enchiam a boca para dizer que não era. A verdade da obra de Spike Lee veio para jogar essa verdade bem no meio das nossas fuças. E tem ainda mais valor, pois não é apenas uma ficção é um livro escrito pelo próprio Ron Stallworth, uma pessoa real que vivenciou um fato real. Ron foi o primeiro afro-americano a ser detetive da polícia de Colorado Springs e não só isso é dele um dos maiores casos de investigação da KKK (Klu Klux Klan), ele fez justamente o que o longa mostra estabeleceu um relacionamento de confiança com o líder David Duke por telefone e conseguiu colocar um outro detetive infiltrado na Klan, utilizando seu nome verdadeiro. Ron fez algo imensurável, transformando-se em uma lenda vida.
Imagina ser o único detetive negro de um departamento, obviamente ele sofreu o próprio racismo dentro da polícia, que não é nenhuma novidade atualmente com os inúmeros casos de brutalidade policial contra os negros, então, certamente que em pleno anos 70, isso não seria diferente. Portanto, percebemos ainda mais a importância de Ron lá dentro, do quanto é preciso a ocupação da população negra nos diversos segmentos da sociedade. O próprio Spike Lee é a prova disso, do quanto é necessário diretores e diretoras negras contando não somente suas próprias histórias, mas as criando também.
O maior destaque de Infiltrado na Klan é a maestria com que Lee consegue conduzir a comédia e a crítica social, a comicidade é presente e traz certa leveza para uma temática bem pesada, logo em seguida tomamos um soco na boca do estômago e paramos para refletir sobre vários aspectos da nossa sociedade. Isso é executado de forma tão incrível que a duração de 2h15 min passam voando diante de nossos olhos.
As críticas de Lee, que co-escreveu, dirigiu e produziu ao lado de ninguém mais ninguém menos que Jordan Peele, aparece aos montes: seja na maneira de nos mostrar os discursos usados como o falso nacionalismo, com a ideia de uma América branca ocupada apenas pelos cidadãos de bem, isso te soa familiar? Seja na hora de apontar o racismo velado daquele em que muito ouvimos por aí “não tenho nada contra negros contanto que eles fiquem na deles, entre eles”. O que acaba sendo uma atitude muito bem apontada na narrativa da obra, principalmente porque nos EUA houve a forte segregação, que ainda hoje deixou suas sequelas e consequências. Chega a ser até mesmo uma “opinião”, entre muitas apenas, dita como liberdade de expressão, mas mascarada puramente com o preconceito.
Spike traz fortes reflexões, chamando a atenção para a consciência, como na fala do Flip: “Antes, eu não pensava sobre ser judeu. Agora, penso nisso o tempo todo”. O caso foi de um enorme aprendizado para ambos, tanto um quanto o outro se descobriram ainda mais. Flip não sabia do preconceito que poderia sofrer por ser judeu, até acompanhar de perto o ódio dos membros da Klan a eles também.
Há ainda um ataque muito bem feito do cineasta ao cinema segregacionista, cujo principal símbolo é o longa O Nascimento de uma Nação (1915). Sem contar que o diretor reserva um momento de diálogo para falar de um movimento cinematográfico que foi bem importante, o Blaxploitation que ocorreu na década de 70, que abriu portas para muitos atores negros e atrizes negras a alavancarem suas carreiras, além de colocar a população negra dentro do cinema, tendo diretores negros. No entanto, o cineasta ainda reserva momento para criticar também através da Patrice os estereótipos.
Enfim, eu poderia me estender ainda mais por aqui, pois Infiltrados na Klan é um filme atual, com muitas críticas e que abre muitos debates, no entanto, nosso propósito é não estragar sua experiência, mas recomendar que vocês vão ao cinema e apreciem essa obra de arte. Lembrem-se a supremacia branca não sumiu, a brutalidade policial, o racismo, o machismo, acontece aos montes. BLACK LIVES MATTER. A luta por igualdade e pelo fim da violência, do preconceito ainda não acabou, ainda tá longe de acabar, tem muitos morrendo simplesmente por querer o mínimo que é viver. O cinema, a arte é pra isso para nos alertar para a realidade, para anunciar os absurdos, criticar a sociedade e tentar fazer com que as pessoas se conscientizem. É dar voz, é deixar com que contem suas próprias narrativas. E principalmente para meter os dois pés no peito, dar um soco no estômago e não nos deixar esquecer de muitos acontecimentos para que eles não permaneçam no nosso presente e futuro. Que é o que está acontecendo, então Infiltrado na Klan demonstra toda a sua precisão e importância para nossa sociedade atual. Fazendo da melhor forma com comédia, que não é espaço nem motivo para ser um gênero preconceituoso. Uma das grandes obras de 2018 e que venha o Oscar!
O longa estreia, hoje, dia 22 de Novembro nos cinemas!
Tagarelem conosco: estão preparados para infiltrar a Klan?
Até a próxima tagarelice e lembrem-se: Todo o poder para todos os povos!
Pisciano. Co-fundador. Fã devoto da New Who.
Algumas horas na faculdade de computação, algumas horas na faculdade de história e muitas horas na frente da tv e da tela do cinema. Viciado em séries desde os tempos do SBT às tardes da noite, e agora levo a vida na base do torrent e Netflix.
Incrível! O ator Adam Driver se compromete muito com o personagem. O elenco deste filme é ótimo, eu amo tudo onde Adam Driver aparece, o ultimo que eu vi foi em um filme bom de comedia chamado Lucky Logan Roubo em Família, adorei esse filme! De todos os filmes que estrearam, este foi o meu preferido, eu recomendo, é uma historia boa que nos mantêm presos no sofá. É espetacular. Pessoalmente eu acho que é um filme que nos prende, tenho certeza que vai gostar, é uma boa história. Definitivamente recomendado.