O Primeiro Homem | Uma viagem sensorial até a lua

Um dos marcos importantes da humanidade foi quando o homem deixou sua pegada na lua, tal evento levou considerado tempo, 50 anos, para finalmente ganhar espaço na cinematografia. Carregado de drama, O Primeiro Homem visa sobretudo nos mostrar todos os obstáculos pessoais ou não do homem que viajou até nosso satélite natural. Neil Armstrong é visto como herói para grande parte dos estadunidense, mas no novo longa de Damien Chazelle (La La Land e Whiplash) essa figura será desmistificada e veremos que aquele que alcançou a grandiosidade de pousar na lua é sobretudo um ser humano. 

Sinopse:

A vida do astronauta norte-americano Neil Armstrong (Ryan Gosling) e sua jornada para se tornar o primeiro homem a andar na Lua. Os sacrifícios e custos de Neil e toda uma nação durante uma das mais perigosas missões na história das viagens espaciais.

A obra possui um formato diferente do que poderíamos esperar, sendo inclusive semi-documental, apela pouco para a ficção científica, é mais pé no chão, encontrando na carga dramática a forma correta de contar uma biografia. Que, num primeiro momento, parece ser apenas de Neil, mas que vai se revelando a história de todos aqueles que fizeram parte do projeto direta ou indiretamente, como os engenheiros e astronautas que deram suas vidas para que melhorias pudessem ser feitas e assim Neil Armstrong e Edwin Aldrin pudessem desbravar a desconhecida lua. Como os familiares daqueles dos astronautas, diga-se de passagem é uma situação complicada para eles, pois observam a morte batendo na sua porta, sofrem o luto da perda dos amigos e receiam as suas próprias perdas. 

“Um pequeno passo para o homem, um grande passo para humanidade”

O roteiro é escrito por Josh Singer – conhecido por roteirizar The Post: A Guerra Secreta e Spotlight: Segredos Revelados – e adaptado do livro First Man: The Life of Neil A. Armstrong de James R. Hansen. Ryan Gosling, o queridinho de Chazelle, interpreta muito bem, diga-se de passagem Neil. Mostrando toda a sua potência dramática, inclusive, ao tornar palpável toda a dor do luto carregada por seu personagem. Claire Foy (The Crown), interpreta Janet Shearon, esposa de Armstrong, a atriz foi a escolha perfeita para o papel mostrando toda sua força e revelando o papel importante que a personagem tinha para aquela família.

Logo, no início, nos deparamos com a claustrofobia, elemento do qual não nos livraremos tão cedo. Ao utilizar enquadramentos fechados, focando, em diversos momentos, no rosto dos personagens e fazendo uso do tremor, o diretor consegue criar toda a atmosfera que seu protagonista está inserido. É, inclusive, tais artifícios que nos conduzem a sair meio zonzos do cinema, afinal o ambiente interno de um foguete não é nada parado. Juntamente com a mixagem de som e trilha sonora – que é quase que um personagem à parte -, elementos nos quais Chazelle sempre se destaca em suas obras, também permitem a criação de uma experiência cinematográfica sensorial. Para além de uma história, O Primeiro Homem quer nos conduzir a sentir as emoções dessa conquista que parece ser individual, mas que acima de tudo é coletiva, então todos deveríamos pousar no nosso lindo satélite natural, mas enquanto isso não é fisicamente possível, Chazelle nos proporciona essa experiência através da sétima arte.

Com relação ao sentimento de coletividade foi muito bem transportado para a obra, haja visto que conhecemos a figura de Armstrong, mas pouco damos importância para seu parceiro Edwin que também deixou suas pegadas na lua. Acontece que toda a áurea de heroísmo paira sobre Neil, o primeiro homem, algo que, por exemplo, vai sendo desmitificado no longa desde o seu início, vamos conhecendo as falhas, as inseguranças, as dores e as nuances de Neil, sua complexidade, sua humanidade ao lidar com as perdas. 

Vemos que ele é um cara que possui uma família e que essa se estrutura de certa forma, que encontra dificuldades em sua ausência, o medo nos olhos de sua esposa e seus filhos. Mas, Janet não deve em nenhum momento ser vista apenas como a esposa desse primeiro homem a pisar na lua, ela deve e é vista através do filme com independência, ou seja, ela é a líder da família, cria os filhos e toma cuidado de tudo, não fica a sombra dele e lida com seus próprios dilemas, suas próprias dores. Apoia o marido e puxa suas orelhas quando este quer pender para o lado egoísta. A vitória não é só de Armstrong, é de sua família também, de Janet que sempre deu suporte para ele e para sua família, por todos aqueles que morreram nos testes, por todos aqueles que se sacrificaram para que enfim Edwin e Neil pudessem pisar no solo lunar. É a soma de todos os envolvidos, dos astronautas que perderam suas vidas, dos engenheiros que projetaram os equipamentos e inclusive de Edwin, que tanto esquecemos. É de todos e o filme tem o cuidado de nos mostrar isso.

Para além da vida pessoal dos personagens, temos também todo o contexto histórico apresentado, a corrida espacial, o momento de competição entre os Estados Unidos e a União Soviética, as duas grandes potências da época que estavam correndo para ver quem chegava primeiro na lua. Esse período é historicamente conhecido como Guerra Fria e vemos o desespero por parte dos EUA no longa. Há de leve certa crítica quando a população desacreditava que o país obtivesse tal façanha, mas sobretudo uma instabilidade, pois muito dinheiro era gasto no projeto enquanto as pessoas viviam em condições inferiores.

A fotografia é lindíssima, temos granulado em todas as cenas, uma coloração que nos remete a filmes antigos. As iluminações são de um cuidado incrível, ressalto aqui principalmente nas cenas espaciais, tanto dentro do foguete quanto nos momentos em que estão no satélite natural. A fotografia contribui demais para a criação dessa atmosfera sensorial da qual sentimos ao assistir, nos ambientando, inclusive, naquela época. Ficamos o tempo todo com aquela sensação de saber que não estamos assistindo algo atual, mas um evento que aconteceu em outra época, a direção semidocumental também nos remete a essa sensação, que a todo momento nos lembra que não é apenas ficção, mas que tem realidade na obra, que é algo histórico.

Enfim, O Primeiro Homem é uma grande obra sobre um dos eventos mais importantes da humanidade, que não é palco para um herói, mas sim, palco para humanos. Nos fazendo conhecer esse homem e principalmente todos que estavam envolvidos no projeto de levar o ser humano a navegar sobre águas desconhecidas, o espaço. 

O longa estreia amanhã, dia 18 de Outubro nos cinemas.

Tagarelem conosco: Estão com o cinto apertado para viajar até a lua? Gostaram da crítica?

Até a próxima tagarelice e lembrem-se que a viagem sensorial te aguarda!

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