Os minutos que dão início a trama nos pegam desprevenidos, a princípio é uma cena simples: uma mulher realizando compras até não ser mais. É um choque inicial da quebra de expectativa, pois esperávamos que o ponto de partida da trama trouxesse mais desenvolvimento antes que acontecesse algo trágico. São nesses minutos iniciais que a história prende seus espectadores.
O Segredo de Madeleine Collins tem uma premissa trivial, em um primeiro momento, é a história de Judith (Virginie Elfira) que vive uma vida dupla, recheada de mentiras e segredos até que tudo começa a desmoronar. No entanto, conforme a trama se desenrola, mais e mais camadas são adicionadas à protagonista, nem tudo é tão simplório assim, afinal de contas estamos falando de seres humanos e como vivem suas vidas.
Acompanhamos as idas e vindas de Judith, que também descobrimos ser Margot, e toda essa trama emaranhada de parecer ser duas pessoas completamente diferentes. É um tanto quanto atraente poder ser outra pessoa, principalmente quando estamos lidando com situações difíceis, como o luto. O sentimento de escape não é algo estranho ao ser humano. Fingir parece uma alternativa melhor a enfrentar, mas na realidade é um trabalho exaustivo sustentar tantos segredos e mentiras, como percebemos acompanhando a trajetória de Judith.
Em determinado ponto, todo o controle que a protagonista havia da situação começa a se perder. A vida dupla era algo que ela gostaria de manter, afinal de contas, era cheia de amor e paixão, no entanto, sabíamos ser algo fadado ao fracasso, principalmente quando envolve pessoas que não estão a par da situação. Não tem como esconder tantos segredos sem que ninguém perceba. E o controle é uma ilusão que facilmente inebria.
Pode não ser o foco principal, mas O Segredo de Madeleine Collins pincela algumas questões como os desafios de ser mãe, de se lidar com o luto e principalmente de ser mulher e viver com suas escolhas. Judith pode não estar fazendo as mais acertadas escolhas de vida, no entanto, a sensação que fica é que ela serviu de trampolim para que outro lide com o luto, enquanto ela mesma tentava da sua maneira superar. E a trama trabalha essa crítica de forma bem sutil.
A atuação de Viginie Elfie é impecável, performa toda a emoção, confusão e instabilidade que o bom roteiro necessita para a protagonista. É por meio da atriz e da direção de Antoine Barraud que passamos a simpatizar com Judith e assim quebramos a expectativa, mais uma vez, não era algo do qual pensávamos que iria ser.
O Segredo de Madeleine Collins é um drama imersivo que se transforma em um thriller surpreendente daqueles que não estamos acostumados, daqueles que usam de sua força maior: o poder de contar uma boa história. É instigando a própria sedução do espectador em se interessar por segredos, mistérios e a curiosidade em saber como é levar uma vida dupla que a trama triunfa.
É verdade que em dado ponto da drama já começamos a desconfiar de algumas coisas, no entanto, é o desenvolvimentos dos acontecimentos a seguir que nos tiram o fôlego e se revelam nada previsíveis.
Enfim, Judith ou Margot, não foge do seu destino, como uma mulher que não consegue aceitar sua realidade e não quer voltar à ela, parte para uma nova vida, sendo mais uma vez um personagem que ela mesma criou para si.
Até a próxima tagarelice!
Fundadora e Editora-Chefe. Virginiana e defensora da terra.
Um pouco Lorelai demais, não só na quantidade exagerada de café, mas também na capacidade de falar muito em pouco tempo. Whovian apaixonada. É possível me encontrar, entre um salto temporal e outro, em Doomsday ou em qualquer biblioteca ou cinema do mundo.